terça-feira, 17 de julho de 2012

Passos trabalho final de graduação: pesquisa + produção

O Passo 1 como indica Umberto Eco (em “Como se faz uma tese” Cap. 4):
“Para decidir qual o núcleo (ou foco) da tese [monografia ou ensaio], você deverá saber algo sobre o material de que dispõe. Eis por que o título “secreto”, a introdução fictícia e o índice-hipótese se contam entre as primeiras coisas a fazer, mas não a primeira. A primeira coisa a fazer é a pesquisa bibliográfica”.O que providencia o ensinamento preparatório ou introdutório ou aquilo que se deve saber antes de dar início a uma pesquisa ou uma reflexão sobre um assunto, os gregos chamavam propedêutica. Este passo se faz para que se possa iniciar a pergunta: “O que sei eu?”.
Passo 2, organizar uma estrutura em forma de índice. Lembremos que Umberto Eco também indica o índice como hipótese de trabalho: “O índice já estabelece qual será a subdivisão lógica da tese em capítulos, parágrafos e subparágrafos. Sobre as modalidades dessa subdivisão” diz Eco.
Se trabalhamos com a noção de problema, cabe discerni-lo (como categoria, conceito, matéria ou forma de conhecimento).
 
Na constituição do método de Bergson (discutida por Deleuze) distingue-se a posição e a criação de problemas. “(...) reconciliar a verdade e criação no nível dos problemas”. Segundo este critério é um equívoco considerar que o verdadeiro e o falso concernem somente às soluções.  Outro equívoco, considerado infantil, é que o professor coloque os problemas, cabendo ao aluno a descoberta das soluções. Argumentam que a verdadeira liberdade está na constituição dos próprios problemas.
“A verdade é que se trata, em filosofia e mesmo alhures [é o nosso caso], de encontrar o problema e, por conseguinte, de colocá-lo, mais ainda do que resolvê-lo. Com efeito o problema especulativo é bem resolvido desde que bem colocado. (...). Mas colocar o problema não é simplesmente descobrir (desvelar), é inventar. (...) o esforço de invenção consiste mais freqüentemente em suscitar o problema, em criar os termos nos quais ele se colocará”. (Bergsonismo - Gilles Deleuze - Editora 34).
Os termos do problema central se enunciam no título. Esses termos podem ser subdivididos entre problemas primários e secundários, que se organizam na forma do índice-hipótese.
Eis o passo 4, que poderá ser exposto na forma de um ensaio ou outra forma: monografia, tese. No caso do ensaio, este representa sempre, “seja qual for a matéria que verse, um ajuste de contas entre o conhecimento já detido pelo autor e aquilo que ele pretende conhecer.”

segunda-feira, 9 de julho de 2012

fragmentos


“É a dança contemporânea a matéria focalizada nesse estudo por ser um espaço privilegiado para a percepção dos efeitos estéticos dessa mudança de eixo de referência conceitual que dá sustentação aos entendimentos de mundo, ao mesmo tempo em que orienta a condução do processo de sobrevivência nele. Não estando, como esteve o balé, comprometida com um conjunto fixo de passos conjugados segundo um padrão estável de dominância associativa; nem sendo, como foi a dança moderna, um campo de referenciação metafórica, a dança contemporânea expressa uma lógica relacional não hierárquica entre corpo e mundo. Diferentemente dos outros modos de configuração coreográfica, cuja variação de gênero estilístico, por mais “pessoal” que seja, ocorre sempre sob o constrangimento de parâmetros programáticos; a dança contemporânea se organiza à semelhança de uma operação metalinguística, na medida em que transfere a cada ato compositivo os papéis de gerador e gerenciador das suas próprias regras de estruturação.” (Temporalidade em dança: parâmetros para uma história contemporânea – Fabiana Dultra Britto)

uma tentativa de introdução fictícia



Um trabalho de conclusão de curso carrega a autoridade de que o futuro arquiteto-urbanista apreendeu uma serie de conhecimentos imprescindíveis para o exercício da profissão. Ele é um atestado da aptidão adquirida durante anos, e mesmo sendo um recorte pessoal dentre as inúmeras possibilidades de temas instigados durante a graduação, apontam predileções, inquietações, curiosidades, desejo de solucionar os problemas da cidade e os calos da arquitetura. Muitas vezes se dispõe a ser um último ensaio acadêmico antes de se partir para uma prática mais severa, na qual a fantasia e o exercício de “possíveis” é talhado pelo ritmo do capital. De certa maneira, dos graduandos se espera um arcabouço firme de referencias teórica e instrumentação técnica que legitima a dita responsabilidade técnica e ética.
Esse trabalho procura compreender as insensibilidades provocadas pelos espaços construídos e não construídos, ou seja, aqueles outorgados por arquitetos-urbanistas e por modelos pré-definidos de cidades que ignoram a contingência do acaso e do tempo. Procura compreender o local desse profissional como propositor de dinâmicas de intensificação da vida e não como prestador de serviço acrítico e tecnocrático¹.
Não me distingo dos demais graduandos ao fazer também eu um recorte que aponta claramente as predileções citadas anteriormente. No entanto, não quis hesitar em me debruçar sobre questões relativas à própria epistemologia da arquitetura, que não ambiciono esclarecer aqui, mas por não ser tratar de um argumento de fundamentação tautológica, é instigante ao apresentar inúmeros desvios a uma suposta lógica interna.
Com isso, quero dizer que causa espanto os superpoderes a nós delegados, fechados em uma categoria de conhecimento especializado e amparada por uma instrumentação técnica, quase um receituário de como proceder diante das demandas. Interessam-me os atravessamentos dentro do campo da arquitetura e do urbanismo, uma espécie de interferência nas bordas de uma massa amorfa, que ao permitir a incorporação de aspectos de outros saberes, problematiza seus próprios limites.
Essa investigação busca um questionamento da atuação do profissional tendo como matriz conceitual a problematização das fronteiras disciplinares que categorizam territórios distintos de especialidades. A própria ideia de atuação profissional implica num jogo de forças em uma arena de incessantes negociações. Diante das variáveis complexas e inter-relacionáveis que compõem as cidades, torna-se imprescindível na contemporaneidade, a dissolução e liberdade de trânsito entre campos delimitados de saberes e um retorno do olhar sobre a própria prática como produtora de novas sínteses e emissora de enunciações que necessitam ser revisitadas e destituídas de seu caráter homogeneizador.
Esse trabalho, portanto, expressa indagações sobre o ensino/formação do arquiteto, uma vez que o âmbito acadêmico pode perpetuar determinados paradigmas incapazes de apreender as atuais dinâmicas espaciais da condição urbana²; a prática profissional, ao propor uma atuação engajada em dispor perguntas/questionamentos muito mais que oferecer respostas e finalmente, trazer experiências metodológicas provenientes da dança, teatro e performance para causar as turbulências (imprevisíveis) nos limites do campo da arquitetura e do urbanismo.
O terceiro ponto nasce de meu forte envolvimento com a dança e as questões relativas ao corpo que se intensificaram com o ingresso na universidade. Dançando, experimentando gestos, explorando o espaço, confirmava-se cada vez mais a similitude desses processos com a capacidade da arquitetura - e por extensão a cidade - em gerar novas percepções e partilhas do sensível, mais liberta de determinismos/formalismos* e aberta a apropriações pessoais e coletivas. A constatação da importância do reconhecimento da inerência de uma “dança” na movimentação de todos os corpos na cidade se revelou consoante à tarefa de enxergar nas frestas da cidade as subversões dos usos pelos seus praticantes. Seria mais ou menos como pensar que, da mesma forma que a dança não é exclusiva a bailarinos e coreógrafos, a cidade e a arquitetura não são construções apenas de arquitetos. Muito pelo contrário, seria necessária uma equalização política dos papéis desses atores-autores para que de fato a arte, a arquitetura e a cidade se tornem construções sociais, coletivas e compartilháveis.
As questões relativas ao corpo são, portanto premissa para se pensar todos os tópicos a que se propõe o trabalho. 

Bárbara Veronez

sábado, 31 de março de 2012

e assim começamos....

Olá queridos,
como sugerido, criamos esse blog para compartilharmos nossas idéias durante essa fase de orientação coletiva do PG...o espaço é aberto à todos... enviemos convites àqueles que possam contribuir e agregar referências, como os meninos de PG 02, co-orientadores, professores, estudantes em geral, pensadores de outras áreas...

Começo indicando o filme que tem pré-estréia hoje no Cine Jardins, sobre a coreógrafa e bailarina alemã, Pina Bausch. O filme é dirigido por Win Wenders e conta com falas de bailarinos que fizeram/fazem parte da companhia e encenam/dançam fragmentos coreográficos com locações belíssimas...

http://www.pina3d.com.br/